quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Áurea Martins e Hermínio no programa "Sr. Brasil", de Rolando Boldrin


Na próxima terça-feira, 1º de setembro, às 22h10, a cantora Áurea Martins e o compositor Hermínio Bello de Carvalho são os convidados especiais do programa "Sr. Brasil", comandado por Rolando Boldrin, na TV Cultura de São Paulo.

No repertório do programa, "Doce de coco" (Jacob do Bandolim/Hermínio Bello de Carvalho), "Estrada do sertão" (João Pernambuco/Hermínio Bello de Carvalho) e "Mas quem disse que eu te esqueço" (Dona Ivone Lara/Hermínio Bello de Carvalho).

Haverá uma reprise no domingo, 06 de setembro, às 10h.


Hermínio acompanhado dos músicos Edmilson Capelupi, Léo Rodrigues e Edson Alves

Fotos de Pierre Yves Refalo

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Documentário musical sobre Elizeth Cardoso

Em 2007, o programa "Mosaicos" (TV Cultura/SP) prestou homenagem a Elizeth Cardoso e promoveu o encontro de Hermínio com a cantora Leny Andrade e o pianista Amilton Godoy. O documentário musical, que ainda contou com as presenças de Roberta Sá, Virginia Rosa e Tatiana Parra, é esse:



Parte 2 - Parte 3 - Parte 4 - Parte final

domingo, 23 de agosto de 2009

Livro "Timoneiro" em versão gratuita



Uma versão do livro no formato PDF está disponível do Google Books. E de graça.

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Jacob do Bandolim, há 40 anos



(Caricatura do artista Ulisses)

Eu sempre associei o dia 13 de agosto a uma sexta-feira, enfatizando a suposta maldição que vinha embutida naquela data.

Meu amigo Sergio Prata é quem me alertou para o equívoco: não era sexta, mas quarta-feira.

Jacob voltava da casa de Pixinguinha, seu e nosso Deus, e foi acometido de um infarto à porta de casa em Jacarepaguá.

Foi há 40 anos: 13 de agosto de 1969.

Não sei de outro músico que tenha deixado tão fortes digitais para um instrumento quanto Jacob Pick Bittencourt legou para as gerações que o sucederam.

Temia que, com sua morte, o culto ao choro desaparecesse. Estivesse vivo e fosse ao pátio Mário de Andrade aos sábados, na UniRio, teria a satisfação de encontrar cerca de 800 alunos que, na Escola Portátil de Música, cultivam aquele gênero musical – especialmente a obra legada por ele, Jacob, e também Pixinguinha, Anacleto, Radamés, Nazareth, Chiquinha Gonzaga e também novos autores que, a exemplo de Mauricio Carrilho, compõem choros belíssimos – e equivalentes ao “Doce de Coco”, “Benzinho”, “Noites Cariocas” – que são uma espécie de cartões-postais do nosso Jacob.

O grande músico era um adepto da indignação. Volta e meia argumentava num tom mais elevado, com seu texto brilhante e também com seu vozeirão inconfundível, qualquer assunto que contivesse uma inverdade ou imprecisão.

Há pouco tempo, o Rio de Janeiro, imitando São Paulo, inaugurou o evento (é-vento) “Viradão Carioca”, que mereceu um protesto coletivo do Instituto Jacob do Bandolim e do Instituto Casa do Choro/Escola Portátil de Música.

Enfim: aquelas instituições herdaram o poder de indignação que Jacob tão bem cultivava. Pedi ao Sergio Prata que me enviasse o texto. Vamos lá, transcrevendo-o:

O Choro e o Viradão Cultural

No recente Viradão Cultural, promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, causou estranheza a forma com que o primeiro e mais autêntico gênero musical carioca, o Choro, foi tratado.
Nos cerca de 300 eventos culturais, chamou atenção a ausência de nomes tradicionais do gênero, dentre eles: Altamiro Carrilho, Hamilton de Holanda, Zé da Velha, Joel Nascimento, Déo Rian, Paulo Moura, Época de Ouro, Galo Preto, Maurício Carrilho, Henrique Cazes, Água de Moringa, Luciana Rabelllo, Luiz Otavio Braga, Eduardo Neves, Silvério Pontes, Paulo Sergio Santos, Nó em Pingo d’Água e paramos aqui, pois a lista é extensa. Em suma, as apresentações de choro corresponderam a cerca de 1% dos eventos musicais, isso em pleno Rio de Janeiro.
Estamos falando da cidade onde esse gênero centenário nasceu, e partir daqui se tornou internacional, e que teve como diletos construtores: Irineu de Almeida, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Jacob do Bandolim, Chiquinha Gonzaga e Waldir Azevedo, ilustres cariocas, que, certamente, não aprovariam esse tratamento.
Esse lastimável equívoco se dá, paradoxalmente, num momento de grande atividade, com a consolidação de experiências vitoriosas no campo do ensino musical como as desenvolvidas pela Escola Portátil de Música, a Escola de Música da Rocinha e a Associação de Compositores da Baixada Fluminense, que, somados, receberam nos dois últimos anos, mais de mil e quinhentos jovens alunos interessados no aprendizado desse gênero.
Constantemente, músicos de choro se apresentam em palcos pelo país e no exterior, e os turistas que aqui chegam, vem com recomendação de conhecer o “...chorinho carioca...”.
O choro representa hoje uma rede social organizada, que tem lutado para preservar seus acervos e divulgá-los, com resultados expressivos, como atestam os trabalhos realizados pelo Instituto Jacob do Bandolim, que numa parceria com o Museu da Imagem e do Som, vem digitalizando o enorme acervo deixado por seu patrono, o que inclui 6.000 partituras e 400 horas de gravações, e pelo Instituto Casa do Choro, que promove o resgate de milhares de partituras dos pioneiros do Choro, no Séc. XIX, material disponibilizado a sociedade.
Enfim, se é louvável e merece elogios a iniciativa de se tentar dinamizar a cena musical por intermédio de um evento midiático, por outro lado, os gestores municipais devem ficar atentos para que, em função das pressões de mercado e patrocinadores, não se permita a redução do espaço que naturalmente pertence às manifestações culturais que contam com raízes sociais e que se mantêm em constante processo de crescimento e renovação, cujo principal exemplo é o Choro, que, por sinal, vai muito bem, sempre pujante e criativo.

Rio de Janeiro, 8 de junho de 2009

Instituto Casa do Choro / Instituto Jacob do Bandolim


Esse texto veio acoplado ao seguinte imeio:

Oi, Hermínio

Segue em anexo o texto sobre o Viradão, que foi assinado e divulgado pelo Instituto Jacob do Bandolim e pelo Instituto Casa do Choro / Escola Portátil de Música. (...) Hoje o Estadão publica uma matéria interessante falando da trajetória e da ausência do teu grande amigo, Jacob do Bandolim, e comentando o momento de grande atividade do instituto que leva o seu nome.

E diga-se de passagem que o IJB é filho da tua santa insistência em salvar aquele que é o maior acervo de choro já reunido, o Arquivo do Jacob, hoje em processo de recuperação na gestão de Rosa Maria Araujo, recuperação essa que teve seu início na gestão do querido maestro Edino Krieger.

Como vc. sabe, estamos desenvolvendo 3 projetos importantes:

a) Digitalização dos 200 rolos magnéticos gravados por Jacob em seus saraus e ensaios, com mais de 400 horas de gravação, que resultou numa coleção de 350 cds, que será entregue ao Museu da Imagem e do Som/RJ, para ser disponibilizado ao público em geral, acompanhado de um catálogo sobre o conteúdo, já identificado, de todo
esse material. Já concluído, em fase de entrega ao MIS.

b) Digitalização das 6.000 partituras - A partir do estabelecimento em 2009, de um Termo de Cooperação entre o Instituto Jacob do Bandolim e o MIS/RJ, foi iniciada em julho/09, a digitalização do acervo de 6.000 partituras do Arquivo do Jacob, no MIS/RJ. O material, após ser digitalizado, será disponibilizado ao público interessado: pesquisadores, músicos, estudantes, etc. - Em andamento. 60% já realizado.

c) Lançamento do Caderno de Partituras de Jacob do Bandolim, com toda a sua obra completa. Trata-se de publicação inédita. Já está concluída e em fase de produção, para lançamento. Reuniu uma equipe de especialistas no assunto: Pedro Aragão, Marcílio Lopes, Déo Rian, Sergio Prata, Maurício Carrilho, Paulo Aragão e Luiz Otávio Braga.

Aproveito e coloco a disposição os links para que seus blogueiros leiam a matéria no Estadão, e vejam Jacob no sitio do IJB.

Leia Jacob:
http://www.estadao.com.br/arteelazer/not_art418050,0.htm


Ouça Jacob:
http://www.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowAudios.action?destaque.idGuidSelect=7DEABB27A1DC4236A0EA15823A4809B8

bjs
Sergio Prata

E há mais ou menos 50 anos...

Lembro da notícia, sintética, estampada na coluna de discos do Silvio Tullio Cardoso: “Morreu Billie Holiday”. Nada mais. Imagino que o colunista, admirador fervorosíssimo de Lady Day, travou as teclas de sua Remington e foi encharcar-se de lágrimas num canto da redação de O Globo. Prisioneira de uma angústia abissal que a fez escrava do álcool e de outras drogas pesadas, a morte de Billie quase coincidia com a primeira vinda de Sarah Vaughan ao Brasil.

Quase nessa mesma época, Linda Baptista – e ainda não estava em vigor a Lei Seca – era advertida por dirigir embriagada. Uns 5 anos antes, morria Carmem Miranda. Lembro-a chegando, de surpresa, na “Cantina do César (de Alencar)” para abraçar a aniversariante Ângela Maria. “Posso lhe dar um beijo?”, e ela “Tasca dois!”. Tenho foto atestando.



Há uns 50 anos, Anilza já estava brilhando nos palcos, como vedete de teatros de revistas. Temia que seu desaparecimento, ocorrido há poucos dias, passasse em branco. O Artur Xexéo, pelo menos, fez uma bela crônica em homenagem àquela linda atriz/vedete, que foi minha coleguinha de classe na Escola 3-3 Deodoro, na década de 40. Tenho em meu álbum um retratinho dela, em uniforme escolar – e, em alguma parte, uma outra foto assinada por Halfeld ou Ávila, não me lembro bem.

Enfim, lembranças que levo aos meus queridos Alexandre Pavan e Luiz Ribeiro, ambos admiradores de Jacob do Bandolim – e responsáveis, com Luiz Boal, pela preservação e atualização de meu acervo. Criaram este apêndice luxuoso – e que me permite pensamentear essas coisas típicas de gente velha e que não tem muita coisa mais o que fazer senão... pensamentear.

P.S – Recomendo o disco “Ao Jacob, seus bandolins" (CD duplo) e o DVD com o mesmo título, ambos editados pela Biscoito Fino.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Áldima


Áurea Martins fotografada por Walter Firmo

Ex-Áldima: o grande ator Paulo Gracindo achou pouco sonoro o nome, e a batizou artisticamente como Áurea Martins quando, há 45 anos, ganhou o primeiro lugar na “Grande Chance”, programa famosíssimo na época, e que depois revelaria também Emilio Santiago.

Áurea Martins tem 69 anos de idade e acaba de receber o prêmio de melhor cantora do ano no Festival de Música Brasileira (ex-Tim) que agora é bancado (R$) pelo idealizador do projeto, José Mauricio Machline (ex-Prêmio Sharp).

Gostaria de dar mais detalhes da vida artística da cantora: procuro “Martins, Áurea” na Enciclopédia da Música Brasileira. Nenhum verbete.

Áurea Martins, entretanto, não é uma ex-cantora e nem está fora do mercado: graças à Olívia Hime, produzimos (Zé Maria Camiloto Rocha e eu) o disco “Até sangrar”, que lhe rendeu essa premiação.

Estranho, não? 45 anos de carreira e apenas 3 discos gravados.

A ex-Áldima batalhou durante anos e anos na noite, ao lado de Alcione, Djavan, Dafé e Emilio Santiago – num tempo em que, à saída do trabalho, a polícia interpelava Alcione, implicando com aquela caixa esquisita que, afinal, guardava o trompete com que também se defendia na batalha pelo chamado pão nosso de cada dia.

Quando o mercado de trabalho afunilou, pegou seu matulão e foi cantar numa ilha, contratada por um gringo que entendeu sua voz rouca e extensão generosa. E lá trabalhou durante alguns anos, e de quando em vez levando algum amigo. Johnny Alf, por exemplo – que chegou, nos tempos difíceis ¬– e que tempos difíceis aqueles! – a dividir apartamento com ela.

A ex-Áldima trabalha à frente da Orquestra Lunar, só de mulheres; também com o Terra Trio ou apenas o esplendido violão de Billinho. Aqui e ali podemos ouvi-la cantar aquele repertório que fazia a Divina Elizeth Cardoso sair de casa para aplaudi-la. Durante um bom tempo, dividiu com Zezé Gonzaga o repertório de Lupicinio Rodrigues num show maravilhoso que tinha apenas o piano de Zé-Maria Camiloto Rocha, também roteirista – e excelente – do espetáculo.

“Não veio?” – perguntou Fernanda Montenegro quando anunciou a ganhadora do Premio, lá no “Canecão”. “Veio sim!”, “não, não veio”, – e lá estava Áurea, num cantinho, bem Áldima. E ao levantar-se e até chegar-se ao palco, foi aplaudida freneticamente.

Lembro que, uma vez, estava na casa do mangueirense Zé Maria Monteiro, e lá estavam Jamelão e, num cantinho do apartamentão, a ex-Áldima. Uma moça tão expressiva quanto uma folha de alface desfilou duas ou três bossa-novas, e em seguida o Luis Carlos Vinhas chamou Áurea pra cantar. Jamelão me sussurrou: “Essa sabe das coisas”.

Há coisa de um mês fui ao lançamento de um livro organizado pela Prof. Gilda Mello e Souza, no Instituto Moreira Salles. A apresentação do livro foi feita pelo Prof. Antonio Candido, seu viúvo, que fez uma pequena palestra sobre o livro “Diálogo da vida inteira”, que reúne a correspondência trocada por Mário de Andrade e o fazendeiro Pio Lourenço Correia (Editora Ouro sobre Azul), tio-avô de Gilda, prima de Mário.

Levei comigo um ex-aluno da Oficina de Coisas, apresentei-o a Antonio Candido como meu mais recente parceiro. À saída, Vidal Assis comentou: “Reparou?”. Sim, eu havia reparado: ele era o espectador mais jovem na platéia e, também, o único negro.

Antonio Cândido explicou sua preferência sobre os personagens secundários, daí não centrar sua palestra em Mário de Andrade, mas em seu pai e no fazendeiro Pio, um excêntrico lingüista que falava quatro idiomas – e que foi o missivista mais presente na vida de Mário: trocaram cartas de 1917 a 1945, quando o autor de “Macunaíma” morreu. “Personagens secundários?” Logo pensei em Aldima, Clementina, tanta gente.

Quando fui assistir ao Recital Bibi Ferreira/Piaf levei comigo a ex-Áldima. Teatro lotado, apenas duas negras na platéia. Telefonei para a Prof. Lélia Coelho Frota, antropóloga e amiga querida, e contei o ocorrido. “O que isso quer dizer?”.

Ainda não sei dizer o que isso significa, mas a questão não deixa de ficar rondando meus pensamentos.

Lembro de alguns preconceitos vigentes na época em que trabalhei na ex-TVE (o ex está sempre presente em minha vida), hoje TV Brasil – que não disse ainda ao que veio. Um deles era sobre a faixa etária. Cartola, Nelson Cavaquinho, Clementina, Zé Kéti – que negaiada ... e véia, hein? parecia ouvir nos olhos censores, que além da cor também contabilizavam as rugas.

Nada ficava muito explícito naquela censura velada. Quando levei Áurea Martins para cantar no programa em homenagem ao Alcir Pires Vermelho (que faleceria pouco tempo depois), esse olhar preconceituoso não havia no andar de baixo, onde os câmeras e os operadores de som e luz eram, alguns deles, também negros. A estranheza vinha sempre do andar de cima. Talvez, quem sabe?, “sua imagem não seja muito televisiva”.

Não quero me alongar muito sobre isso, atento às observações repassadas por meu guru Alexandre Pavan: seja conciso. Mas não consigo me expressar em apenas 140 caracteres, como ordenam as regras do Twitter.

Compro um monte de revistas e jornais, semanalmente. Vejo bastante televisão, e as imbecilidades que são colocadas no ar.

“É uma das 3 maiores cantoras do Brasil!”, escreve Nei Lopes. Faltou informar isso aos editores dos segundos cadernos, a alguns críticos musicais e aos produtores de rádio e TV.

Se o Faustão (ex-Fausto Silva), se dispusesse ouvir ex-Áldima, talvez até se dispusesse a homenageá-la num daqueles quadros onde só entram protagonistas, raramente os personagens secundários de que fala Mestre Antonio Candido. Tenho a certeza que, num telão, ouviríamos o Emilio, a Alcione, o Francis Hime reverberando aquilo que sempre ouvimos de Elizeth Cardoso, Jamelão e Zezé Gonzaga.

E a ex-Áldima entraria em cena com aquela boina torta na cabeça, meio Betty Carter, meio que vindo da feira, sem lantejoulas ou badulaques coruscantes – a bordo apenas de seu talento, de sua voz poderosa, espargindo a magia própria das deusas, deusa ebanácea que às vezes chega cuspindo marimbondos e sacudindo as argolas até nos jogar em sua arena, onde se deixa arder entre canções.