Ando em falta com os amigos que acessam este saite. Sei que parece descaso abrir a tela do computador e encontrar o mesmo texto de abertura do nosso www, e não esbarrar com uma palavrinha novidadeira e/ou algumas dicas interessantes.
Mas estamos abertos a sugestões. Um amigo fala de “gavetas fora do lugar”, e não sei o que isso significa em termos internáuticos (ou internéticos?). Quero apenas ressaltar que sou responsável pelas informações que legendam, por exemplo, o link relativo às músicas (player).
Mas devo confessar uma falta bem mais grave: a minha absoluta falta de familiaridade com a Internet. Não é a-tôa que eu mesmo já me autodenominei de “anta cibernética”. Mas os construtores do nosso saite vão fazer um seminário intensivo, que me permita interferir no processo, por exemplo, de retificação de algumas legendas. Meu querido Sergio Cabral diz que sou um péssimo informante no quesito datas.
Mas tenho sempre a velha muleta que me socorre nessas horas: nunca fui pesquisador, mas um guardador de tralhas – algumas até de valor histórico. Lembro quando Clementina pisou o palco do Teatro Jovem em dezembro de 1964, na série O Menestrel, ao lado de um então quase menino chamado Turíbio Santos. Inesquecível o momento em que abriu sua apresentação cantando o “Benguelê”, que acabou sendo gravado como de “autor desconhecido” no LP “Rosa de Ouro”. Fosse pesquisador, e teria ido às fontes – e não teria passado o vexame que passei no Bar Gouveia, quando lá fui convocado pelo parceiro Pixinguinha – que me presenteou a partitura original da música, de autoria dele e com versos de Gastão Vianna.
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Ainda sonho em ter um link em que todos possam ter acesso, por exemplo, a algumas das centenas de programas que produzi para a TVE, hoje TV Brasil. “Mas isso gera problemas com direitos autorais”, me advertiram. De minha parte, devo declarar que não recebo nenhum vintém cada vez que a TV reprisa um de meus antigos programas. E nem os colegas que lá se apresentaram. Mas, acessando o YouTube (ou I-Tube? Nunca sei) – um amigo meu descobriu até um especial de Isaurinha Garcia gravado num Água-Viva de 1977. Pode? Gostaria de mostrar pra vocês algumas preciosidades, tais como : Sidney Miller, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Padeirinho, Mauro Bolacha, Copinha, Abel Silva, Nelson Cavaquinho – e mesmo programas produzidos por terceiros, como foi o caso do Entre Amigos. Lá vocês verão este vosso amigo fazendo parte da turma entrevistadora que se mobilizou para homenagear meu querido cronista Jota Efegê (Nássara, Carlos Drummond de Andrade, Alvarus) e o grande Luciano Perrone (Tom Jobim, Joel Nascimento).
A informação tem que circular, é o meu atual bordão. Nada novidadeiro, certo?
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Relendo o belo livro do Zuenir Ventura (“Minhas histórias dos outros”, Ed. Planeta, 2005), estanco no capítulo “A chegada da peste”, e releio muitas vezes as palavras de Betinho: “não aceito o estigma, não internalizo o anonimato. Isso faz um mal terrível”. Falava de Aids, que o vitimou. E aproveito para falar do meu câncer. Ao torná-lo público na festa de inauguração deste saite, realizada no Bar Genial dos irmãos Altman, em São Paulo, fui obediente aos conselhos que pedi ao meu oncologista: era preciso alertar que câncer de mama ataca também os homens, e que ele mata. O meu foi detectado a tempo. Posso, agora, dizer: tive câncer. Uma mastectomia o extirpou, e estou seguindo um tratamento de ingestão de pílulas durante 5 anos, o que me livrou da quimioterapia. Vá lá: é uma espécie de quimioterapia, porém menos invasiva.
Foi a primeira vez que um câncer foi aplaudido, ao ser anunciado. Tomara que o alerta tenha sido útil aos machões presentes, que se recusam a uma dedada preventiva do câncer de próstrata. É uma penetraçãozinha vagamente dolorida. Relaxa e goza, companheiro, que o pior pode vir depois.
Um outro amigo, fumante até então inveterado, ensinei-lhe a terapia: escreva sobre a doença. Funcionou.
“Podemos conversar sobre o assunto?” – perguntei a uma querida antropóloga, que andou passando um perrengue com essa história. “Claro que sim”, e me deu dicas valiosas sobre a doença. “Acho que todo mundo resolveu ter um cancerzinho”, me diz uma outra amiga, também navegante do mesmo oceano.
E não tenha medo de pronunciar a palavra câncer. Eu a conheci através de uma sinonímia, carcinoma, quando minha mãe adoeceu. Hoje, relendo meu laudo, a palavra está lá. Sublinho a palavra encapuzada, e coloco a mais popular como é conhecida e temidamente pronunciada. E vamos em frente.
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O hábito faz o monge? Anunciam, a toda hora, a troca do livro impresso pelo virtual. Isso quer dizer o seguinte: você se refestela numa cadeira ortopédica (as cadeiras pros usuários de computador sempre as chamarei de ortopédicas) e fica virando as páginas através do mouse. Claro, daqui a pouco você poderá optar por um telão de 52”, acomodar-se numa poltrona e degustar seu Machado de Assis ou Drummond através de um toque digital. Pode ser. Meu amigo Paulinho César Pinheiro ainda gosta do texto manuscrito, depois passado a limpo numa máquina Remington.
O cheiro do lápis ainda me fascina, e folhear um livro só à moda antiga. “É um hábito”, me esclarece o Alexandre Pavan – e os hábitos nem sempre passam de uma geração pra outra. Sei não. Minha amiga Cecília Scharlach voltou de uma feira de livros e discos em Frankfurt. Trouxe a novidade: mini-edições de obras completas, por exemplo, de Shakespeare, e uma antologia de gravações de Count Basie. Edições simplificadas, feitas economicamente, e acessíveis a todos (ou quase todos) os bolsos.
Bem, até breve.