Não gosto de discursos, mas rabisquei um agradecimento formal a todos que trabalharam na construção do saite Acervo HBC. Deu-me canseira, confesso. Fiz, refiz, rasurei, detonei alguns tópicos e eis que me deparo com a própria essência desse trabalho: a descoberta, hoje, de uma pasta chamada “Empório da Magia”.
Isso foi em 1997, façam as contas. Lembro que, para tocar o projeto adiante, coloquei Chico Buarque num estúdio para narrar um texto descritivo daquilo que, no futuro, seria o saite que ora vos contempla.
Volto a dizer: a essência do trabalho está aí, na surpresa da (re)descoberta de um registro sonoro (às vezes, ocasional) de visitas ilustres à minha casa. Como Valzinho, Silas de Oliveira ou eu mesmo visitando Tom Jobim na companhia de Aracy de Almeida. Muita coisa se perdeu, mas a essência do acervo foi preservada: poder encontrar o que considerávamos na lata do lixo da tal memória.
Transcrevo o discurso que, olha só!, prefiro antecipar em nosso saite – porque na hora agá ficarei olhando pro chão, orando para que ele se abra e me engula. Nessas horas, fico parecendo a redução mais perfeita e completa do 3 em 1, ou seja, a dos Três Patetas. Este vosso amigo torna-se a versão mais perfeita do imperfeito e do desastrado palhaço que, às vezes, faz a tal platéia gargalhar – como já se ouviu naquele samba do Nelson Cavaquinho.
Hermínio Bello de Carvalho
01. A doação de meu acervo ao Museu da Imagem e do Som, que hoje está sendo oficializada, tem uma característica: dos presumíveis 50 mil itens que fazem parte desse conjunto, 10 dez mil já estão disponibilizados no saite Acervo HBC.
02. Esse trabalho de construção do saite deve-se a uma equipe de jovens e talentosos operários culturais, aqui representada por Luiz Boal, da produtora Olhar Brasileiro. Quero citá-los, um a um: o jornalista Alexandre Pavan, o músico e parceiro Luiz Ribeiro, Jacira Berlinck e Tatiana Maciel. Devo acrescentar que uma primeira tentativa de organizar esse acervo foi feita em 1997, sob a coordenação do produtor João Carlos Carino, e com apoio financeiro do empresário Paulo Amorim.
03. Devo um agradecimento especial ao meu irmão e companheiro Prof. Luis Sergio Bilheri Nogueira, que há mais de quatro décadas acompanha o meu trajeto na área da cultura. Esteve ao meu lado, e de Albino Pinheiro, no projeto “Seis e Meia” – do qual resultou um macro programa que levei para a Funarte. Falo do Projeto Pixinguinha, cuja ampliação a nível nacional também se deve a ele.
04. Pedi à presidenta do MIS que convidasse um grupo de amigos que fazem parte de meu acervo afetivo: Áurea Martins, que aqui representa Elizeth Cardoso e Zezé Gonzaga, cantoras que estiveram presentes em nossas vidas, e que deram vida às canções que compus com meus parceiros.
05. Pedi que à esta cerimônia não estivesse ausente um amigo que há quase meio século está ao meu lado. Estive, com Ismael Silva, na cerimônia de seu casamento com Magali. Vi seus filhos crescerem: Serginho, Mauricio, Claudinha. Estou me referindo ao amigo Sergio Cabral, que me inspirou na doação de meu acervo ao MIS. Somos, de alguma forma, discípulos do velho Henrique Foreis, o Almirante, e com ele e Jacob do Bandolim aprendemos o quanto é importante registrar, documentar, preservar e fazer circular os bens culturais que chegaram às nossas mãos.
06. Pedi ainda que não faltasse à esta cerimônia uma pessoa com quem aprendi a melhor compreender a natureza e a importância de sua preservação. Ele é Zé Luiz do Manguezal, da Colônia Z-10 de Pescadores, da Ilha doGovernador, que navega num barquinho chamado Chico Bello – e não me perguntem o porquê desse nome.
07. Pedi também que a presidenta Rosa Maria Araújo convocasse um representante da Escola Portátil de Música, a quem doarei outra parte de meu acervo, constituído de centenas de livros, inclusive a coleção Mário de Andrade. Parte desse acervo áudio-visual já integra a midiateca que tem meu nome, e que está em pleno funcionamento naquela Escola. Classifico como doação partilhada, essa que farei, porque alimento a esperança de que conseguiremos recuperar a integralidade dos programas culturais que produzi para a Rádio MEC, na década de 1950, e também para a TVE, hoje TV Brasil. A transferência dessa outra parte do acervo será entregue à Escola Portátil, tão logo ela ocupe o prédio que lhe foi destinado como sede, na velha rua da Carioca. Louve-se o Sr. Governador do Estado Sergio Cabral e a Secretária de Cultura Adriana Rattes por esse olhar atencioso para uma instituição que atende a mais de novecentos alunos no Rio de Janeiro. Como o próprio nome indica, a Escola é Portátil, podendo circular, como já circula, por todo o Brasil. Adriana é bastante paciente com o “buzinaço” que faço, conclamando a volta do projeto de Albino Pinheiro à Praça Tiradentes. Sábia também vejo que é a escolha de Antonio Grassi para presidir a Funarte. Não deixa de ser uma sinalização de que, em breve, estará novamente circulando por todo o Brasil o Projeto Pixinguinha. É um indicativo de que instituição está sendo recolocada condignamente no organograma do Ministério da Cultura, cuja titular, Ana de Hollanda, foi até pouco tempo vice-presidente desta Casa.
Finalizando, um agradecimento à presidência, à vice-presidência, às diretorias do Museu da Imagem e do Som – e a todos seus funcionários que devem estar orgulhosos com a perspectiva de uma nova e moderna sede em Copacabana. E rendo minha homenagem a Mauricio Quadrios, primeiro diretor desta casa, que inspirou Carlos Lacerda a edificar este Museu.
A Pixinguinha e Clementina, minhas saudades.