Que se noticie: a Escola Portátil de Música ganhou uma sede, na Rua da Carioca, Rio de Janeiro. Quase em frente ao centenário Bar Luiz, próximo do lindo cinema Ritz. Será vizinha de um ex-cinema que ainda ostenta o esqueleto de uma engrenagem que movia o teto retrátil da esplendorosa sala, teto que era bastante utilizado na época do verão.
A Escola Portátil hoje abriga mais de 800 alunos que sabem tudo sobre Pixinguinha, Tom Jobim, Anacleto, Radamés Gnattali, Chiquinha Gonzaga, Guinga. Sabem e tocam. E depois de alunos, viram monitores – e aí então, passam a ser oficineiros. Uma parte deles está agora em Manguinhos, atuando num projeto social. Acho que fariam bonito ensinando música às comunidades carentes que já foram ocupadas pelas UPPs (Unidades Policiais Pacificadoras), com um novo conceito de erradicação do tráfico armado e das milícias que tomaram conta de nossas favelas, cuja ocupação maciça é feita pela massa operária.
Aprendi com uma querida amiga a ter um olhar que contemple os dois lados das criaturas bem como das situações que elas criam. “Há sempre um lado bom em qualquer história”, tenta me seduzir. Falo de Heloisa Lustosa, filha de Pedro Aleixo, único dos ministros a não colocar sua assinatura no maldito AI-5. Católica fervorosa, era presidente do Museu de Arte Moderna em pleno regime militar, e sabe o quanto penou ao nos ceder uma salinha para a instalação da Sombrás. Tachados de subversivos (e tentávamos sim subverter a situação imoral que assolava os direitos autorais no Brasil), sempre tivemos sua amiga mão amiga sobre nossos ombros.
De uma certa forma, fez-me tornar menos vesgo e radical para uma figura particularmente polêmica da política brasileira: Carlos Lacerda. Atenuo meu horror àquele homem público sempre que atravesso o aterro do Flamengo, e me vejo diante da esplendorosa Baía de Guanabara, e diviso dois símbolos de minha cidade: o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor. Lacerda era um visionário que amava sua cidade.
Infelizmente, ainda não consigo ser complacente e generoso com esse Ministério da Cultura que aí está aí. Faço coro aos meus ex-colegas do Conselho Estadual de Cultura: não existe uma política cultural emanada por aquele Ministério. Se a Escola Portátil tornou-se um Ponto de Cultura (um dos programas do MinC), também o Jongo da Serrinha ganhou o mesmo beneficio – mesmo tendo encerrado suas atividades sociais.
E a nossa classe, agora, é convocada para uma reunião com o referido Ministro. O convite é explícito: apenas para compositores, intérpretes. Nada de representantes das entidades que administram nossas vidas. Isso exclui Paulinho César Pinheiro (que é diretor da Amar-Sombrás), e inúmeros compositores que fazem parte da diretoria de outras associações, como é o caso de Fernando Brant e Ronaldo Passos, para ficarmos apenas em dois exemplos.