Em 1999, à frente do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, a antropóloga Lélia Coelho Frota me convidou para produzir artisticamente o primeiro de uma série de CDs que pretendia lançar sobre os sambas de terreiro das mais tradicionais escolas de samba – e a primeira escolhida fora a Mangueira. Um belo disco, que teve arranjos de Mestre Paulão 7 Cordas e assistência de produção de Kiko Horta, fantástico acordeonista. Uma vasta pesquisa de campo nos foi oferecida por nossa querida Lélia, cuja missa de trigésimo dia vejo anunciada nos jornais de hoje, 30 de junho de 2010.
Valeram-me os arquivos que deram origem a este saite. Neles tinha guardado gravações preciosas, registros feitos na minha casa ou nas de Cartola ou Carlos Cachaça – e até, se não me engano, na Birosca da Efigenia do Balbino, quando ainda podia se freqüentar, sem sustos, o Buraco Quente da Mangueira. A fita, talvez a mais preciosa do lote de registros, fora preservada por um amigo querido – o jornalista Arley Pereira.
Gravações caseiras, feitas no início da década de 60 – e o disco produzido pelo Arquivo Geral da Cidade é hoje um documento preciosíssimo para aqueles que quiserem entender a evolução do samba de terreiro até chegar às quadras das Escolas, quando praticamente se extinguiu.
Foi graças a esse registro que um samba de Padeirinho não caiu no total esquecimento: “Modificado”, regravado há pouco por Tantinho da Mangueira e também por meu parceiro Fernando Temporão.
À Lélia devo muitíssimo. Fomos companheiros de trabalho na antiga Funarte, onde desenvolveu um trabalho esplêndido na área do folclore. Mais recentemente, integramos o Conselho Estadual de Cultura, onde sua atuação era, no mínimo, brilhantíssima.
Nosso último encontro, em sua casa, há uns dois meses, teve a cultura como antepasto, almoço e sobremesa. E com um amável convite para um repeteco, que lastimavelmente não pôde acontecer.