Raramente a Internet contextualiza (e legenda)
Durante muito tempo relutei em conhecer a Internet, essa máquina do diabo. Minha antipatia adensou quando, pra ficar num exemplo, um sub-neto (sim, existe essa categoria) pediu para “fazer uma pesquisa” encomendada por sua escola. Essa garotada, como se sabe, maneja bem a linguagem de seu tempo, que é a dos computadores. O meu ainda (tempo) era o da máquina de escrever, da câmera fotográfica com rolinho de filme, da calculadora ligada à eletricidade – e sobretudo do telefone como o concebeu Graham Bell. Me vejo, menino do bairro da Glória, tirando o fone do gancho: “Alô, 42-2435”. Hoje telefone não só telefona como também filma, manda e-mail, tem calculadora, entra na Internet – e em breve fritará ovos e acoplará outras atividades, inclusive as sexuais, atendendo-as com excentricidades e bizarrices – se é que me faço entender.
Sim, a Internet fornece “pesquisas”. Ontem, ao ler uma apostila extraída do computador, fiquei pasmo com a falta de conteúdo da mesma. Acho (sempre procuro, aliás, e nunca acho...) que fazem falta no ensino de hoje a redação de nível autoral, mesmo que em laptop, já que essa coisa de caligrafia está indo pro espaço há muito tempo. Pela falta de hábito, nem eu consigo reler os bilhetes que rascunho. E o ensino da música nas escolas? Fundamental! E, sonho meu! que a ecologia fosse incorporada como matéria obrigatória nos cursos primários.
A Internet, claro! informa – mas também induz à preguiça.
Mas sou, sim, a favor das novas tecnologias. Veja o telefone celular com filmadora, rompendo o cerco de censura que baixou no Irã. São os jovens fazendo uso político desse aparelhinho infernal, colocando-nos a par das atrocidades cometidas lá do outro lado do mundo.
Mas se informa e se induz à preguiça (e se às vezes se torna uma arma a favor da pedofilia), a Internet tem múltiplos encantos, e vamos louvá-los aqui.
Ontem o neto de minha amada Elizeth Cardoso me enviou um imeio, indicando um vídeo do Paulinho da Viola. E eis que surge meu parceiro querido num raríssimo vídeo, onde o “Conjunto Rosa de Ouro” aparece com sua formação integral: Paulinho, Elton Medeiros, Nelson Sargento e os já falecidos Jair do Cavaquinho e Anescarzinho do Salgueiro.
Claro, faltou a legenda, a informação complementar. A única informação é a de que foi gravado em 1980.
Mas, juntando imagens de Clementina de Jesus e Aracy Cortes, teríamos uma pálida idéia daquele musical que, em 1965, junto com o espetáculo “Opinião”, provocou uma revolução estética na área dos musicais – sobretudo aqueles que, com parquíssimos recursos financeiros, trabalhavam à luz de meia dúzia de refletores e, muitas vezes, com vozes não microfonadas e teatrinhos desaparelhados.
Enfim, voltaremos ao assunto brevemente. Enquanto isso, curtam esse registro raro e precioso.